Entrevista Record
RECORD – Chega a Portugal depois de toda a carreira em França. Como aconteceu o convite da Naval?
VICTOR ZVUNKA – Recebi um telefonema do sr. José Ferreira [ndr. diretor da Naval] no qual me explicou o funcionamento do clube e perguntou se estava interessado em vir à Figueira da Foz. Dois dias depois, estava na Figueira, falei com o presidente, visitei as instalações do clube, fui a Quiaios e fiquei a par do plantel.
R – Aceitou de imediato?
VZ – Bastaram três ou quatro dias. Por telefone, aceitei o convite. É bom para mim, uma vez que estou a trabalhar na 1.ª Divisão, mas também pelo sr. José Ferreira. Outro aspeto que achei importante foi o de muitas pessoas, incluindo o presidente, falarem francês. Assim, a língua não será um problema.
R – O que conhecia de Portugal?
VZ – Tudo o que conhecia era através da televisão. Mas conheci sempre muitos portugueses por onde passava. A minha filha teve sempre amigos portugueses.
R – Já tinha estado cá?
VZ – Só uma vez. Estive no Porto a ver os quartos-de-final contra o Brondby, quando o FC Porto foi campeão europeu pela primeira vez. Disseram-me: “Se formos à final, convidamos-te.” Assim foi, estive em Viena, quando Madjer marcou o golo de calcanhar.
R – Conhece Madjer?
VZ – Claro que conheço. Joguei com ele no Racing CF e fui treinador dele no ano seguinte. Ainda estamos muitas vezes em contacto, por telefone e mesmo pessoalmente. Foi um jogador extraordinário, muito forte. Foi por causa dele que conseguimos subir de divisão.
R – Que outras referências tem?
VZ – A grande referência da minha juventude é Eusébio, claro. Mas lembro-me de toda a equipa do Benfica dessa altura, Costa Pereira, Coluna, Simões... enfim, o Benfica.
R – Aprígio Santos disse que queria um técnico 24 horas por dia…
VZ – Em alguns clubes por onde passei, fui o responsável por tudo o que acontecia, mesmo quando era treinador principal. Aqui, quando a época começar, quero também estar a par do que vai acontecendo nos escalões de formação.
R – Que clube encontrou na Naval?
VZ – Em termos de condições de trabalho, penso que a Naval está ao nível de um clube do meio da tabela em França, como Le Mans, Nice ou Valenciennes. O estádio devia ter melhores condições, seria bom para nós, mas principalmente para os jovens.
R – Esse é o ponto mais negativo?
VZ – Sem dúvida. Ainda por cima existe espaço ao lado do estádio para que se pudessem fazer obras. Em Nelas, por exemplo, existem dois campos com ótimas condições.
R – Que impressão tem da equipa a nível desportivo?
VZ – Tenho uma noção do que vale a equipa, mas preciso de mais tempo. Trabalhámos muito a parte física. A nível de disciplina é um bom grupo, mas pode melhorar no aspeto da concentração.
R – Existem diferenças entre o jogador português/brasileiro e o francês?
VZ – Não existem grandes diferenças, mas penso que o jogador português/brasileiro gosta sempre de dar mais um adorno na bola.
R – Quais os objetivos para a época?
VZ – Quero fazer uma época tão boa como a anterior, mas não esquecendo que o principal objetivo é a permanência.
R – Sabe que o presidente tem o sonho de chegar à final da Taça de Portugal...
VZ – Também eu tenho esse sonho, mas não vale a pena estar a falar disso porque é uma prova a eliminar.
R – Ansioso pela estreia com o FC Porto?
VZ – Ainda não, falta muito tempo. Agora estou concentrado na minha equipa e depois vou concentrar-me na equipa adversária. Sei que eles também estão em construção, uma vez que chegou um novo treinador e muitos jogadores. Será um jogo muito difícil.
R – Quanto tempo espera permanecer em Portugal?
VZ – Quando vou para qualquer lado, o meu objetivo é ficar o máximo de tempo possível, mas isso depende de muitas variáveis. Estamos sempre dependentes dos resultados, são eles que fazem com que fiquemos mais ou menos tempo.
R – Normalmente, não fica muito tempo no mesmo clube…
VZ – Mas quando estou, concentro-me a 110% ou 120% nesse clube.
R – Como sente que a equipa está a reagir às suas ideias?
VZ – Confesso que no início foi difícil, mas agora sinto que a equipa já está a fazer as coisas como eu gosto.
R – O 4x2x3x1 é a tática de Zvunka ou a que melhor se ajusta à Naval?
VZ – Quero ver a equipa neste esquema e depois logo decidirei se mantenho ou não. Não tenho problemas em mudar, caso veja que não está a resultar.
R – Ainda conta com Fábio Júnior?
VZ – Contar, conto, mas ele ainda não está aqui. Quando chegar, vai ter de fazer tudo o que os outros já fizeram. Vai ter de sofrer sozinho.
R – Qual o melhor futebolista que já viu jogar?
VZ – Josip Skoblar, avançado jugoslavo, recordista de golos numa só época em França [ndr. marcou 44 em 1971], mas também Salif Keita, que jogou aqui em Portugal, no Sporting.
R – Representar a seleção francesa foi o ponto mais alto da carreira?
VZ – Foi uma honra e um orgulho, mas ganhar a Taça foi o melhor dos momentos. Foi mais bonito.
R – Enquanto jogador ou treinador?
VZ – Treinador. Porque foi num clube da 2.ª Divisão [ndr. em 2009 no Guingcamp] e só dois clubes o conseguiram.
Fonte: Record
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