NAVAL
"Sempre sonhei ir à final da Taça e sentar-me no Jamor"
O presidente da Naval não confirma o divórcio, no final da temporada, com o treinador Augusto Inácio.
P - Porquê o tabu à volta de Inácio?
Eu não faço tabu sobre nada. Tenho uma metodologia, no futebol, que é a seguinte: trabalho eu e mais meia pessoa. E meia porque ela não sabe, não pode saber, tudo o que quero e penso. No fundo, tenho que dizer que muito pouca gente me conhece a fundo. Por isso, a grande maioria deita-se a adivinhar. E, depois, adivinha mal. Há uma coisa que eu nunca fiz, que foi deixar de honrar a minha palavra. Agora, o que não admito é que outras pessoas, por meias palavras, façam ou alterem o que está contratualizado. Mas é claro que, ao longo da minha vida, algumas tive de engolir. Dizem que sou ditador, mas é mentira. O que sou é rígido. E, no caso do Inácio, o contrato está feito e acaba no fim da época. E eu não gosto de fazer, como noutros clubes, que andam todos os dias nos jornais a falar de treinadores.
P - Mas já acertou alguma coisa com o técnico, mesmo que isso não seja público?
Pois, já o poderia ter feito. Mas não fiz. Sabe, há sempre algumas mágoas…
P - Está a referir-se à Taça de Portugal?
É uma grande mágoa, para mim. Sabe, há momentos na nossa vida em que não podemos falhar. E eu sempre tive o sonho de um dia me sentar no Jamor. É claro que tudo isso passa, mas, no caso da Naval, com a SAD que aí vem e com os ajustamentos que vou fazer, também não sei ainda quem vai ficar a trabalhar comigo. Por isso, estar a pôr os carros à frente dos bois é também negativo. Mas, atenção, o que quer que venha a acontecer, nomeadamente com o treinador, é decisão minha. É o mesmo com as contratações. Claro que o treinador é ouvido, mas quem escolhe e contrata sou eu. E sabe porquê? Porque os clubes pequenos são sempre os mais atreitos a chicotadas, ou como se queira chamar. E, depois, quem cá continua sou eu.
P - É verdade que vai dar destaque à formação, na nova SAD?
A formação está entregue a pessoas que fizeram um trabalho magnífico, de maneira que quero dar mais a essa gente, se calhar um director a tempo inteiro, que seja, por exemplo, treinador dos juniores e responsável por todo o resto das camadas jovens. Ora, isso vai criar alguma turbulência. Aliás, já estou a senti-la, dentro do clube. Mas é verdade que eu gostaria de ter mais jogadores portugueses…
P - Em que pé está o projecto da academia, na margem Sul?
O projecto, para S. Pedro, é ambicioso, num terreno espectacular, mas o anterior secretário de Estado das Florestas deixou-o em cima da mesa. Se tivesse avançado, já, a Naval daria seguramente mais trabalho, mas sem dúvida que nos dava muito mais dignidade. Mas, tal como noutros casos, voltou a haver alguém, no governo da cidade, a travar as nossas ambições. Olhe, que a terra seja leve ao eng. Aguiar de Carvalho, de quem aprendi a ser amigo, que teve muita gente a maltratá-lo, no final da carreira e da vida, mas que agora se vai percebendo que tinha razão.
P - Que outras mais-valias vai trazer a SAD à Naval?
Claro que a SAD vai permitir trazer para a Figueira dois ou três investidores, que estão já meio escolhidos. Também por isso eu quero muito o estádio novo, pois sem ele tudo fica comprometido. Daí que eu queira que as forças políticas do concelho, todos e não apenas quem governa, olhem para o projecto e percebam que é uma benfeitoria para a cidade, de um clube que deu muito e a quem a cidade deve muito.
P - Para além de Hugo Machado, como vai construir a próxima equipa?
Vamos lá a ver. Já se sabe que o Diego vai sair e eu vou começar exactamente por aí. Sabe que, para mim, uma equipa começa a ser construída pela defesa. E eu vou ter de reconstruir a minha. Só depois virá o resto.
P - Tem pena que o Diego saia?
Vejamos. Há sempre jogadores que a gente gosta mais. Mas eu já me deixei de grandes emoções. Tenho é pena de que ninguém o tenha querido, em Portugal. Foi preciso vir um italiano elogiar o miúdo, de 24 anos,
P - De onde lhe vem o “olho” para mercado francês?
É simples. Vou vendo televisão, tenho boas relações aqui e ali, com gente que me vai avisando… Olhe, quer um exemplo, aquele jogador que hoje está no Lyon, o Cissokho, esteve na Naval, a sugestão de alguém, mas houve aqui quem não tenha gostado dele. Depois, foi o que se sabe: foi para Setúbal ganhar uns seis mil euros e acabou transferido do Porto para França por 15 milhões.
P - Está a dizer que Ulisses Morais o rejeitou?
(risos) Bom, não se gostou, disse-se que se estava servido, que se preferia um mais alto, mais assim, mais assado…
P - Para esta época, vieram sete de França…
De todos eles, aproveitam-se dois. Os outros vieram emprestados e era esse o destino. O Kerouche deu-nos seis pontos, portanto, tenho de lhe dizer obrigado… Sabe, eu não posso estar dentro da cabeça do treinador. Posso tossir uma vez ou outra, mandar um recado de vez em quando, mas mais nada. Agora, no final, fazem-se contas. Por enquanto, eu só posso estar grato à minha equipa técnica, por deixar a equipa na Liga. Mas, sabe, eu tenho um estilo que é assumir sempre os erros que cometo e transmiti-los à equipa, uma coisa que tenho visto muito pouco noutras pessoas… Quer outro exemplo? No célebre Penafiel-Naval, em 2006, o jogo que nos deu a manutenção, quem marcou o golo (Leo Guerra) era o jogador mais caro do plantel e, logo ali, ficou o mais barato, mas o facto é que andou jogos sobre jogos no banco… às vezes há faltas de visão que me transcendem.
P - Fernando Gomes, na Liga, é a melhor escolha?
É. Foi um homem que tratou sempre das finanças do FC Porto e isso diz tudo. É um homem que fala quando deve e não quando lhe apetece. E fala do que me parece que sabe. O que é preciso, no futebol, é alguém que saiba dialogar, todos os dias, todas as semanas, com o Governo nacional, sobre o que realmente são os problemas do futebol nacional. Por que temos de pagar tantos impostos, por que somos sempre os maus da fita…
P - Não receia, portanto, que seja um homem de mão de Pinto da Costa?
Isso é completamente mesquinho. Ele é um homem de ética e vai querer ter consigo quem o acompanhe nesse objectivo.
P - Como avalia os sinais de tentações hegemónicas do Benfica?
O Benfica pode ter a grandeza toda do mundo, mas na Liga só tem um voto. Como nós. E também aí o dr. Fernando Gomes me dá garantias de que isso não vai acontecer. Veja-se o caso dos direitos televisivos. É claro que é preciso definir critérios claros, que incluam, por exemplo, um fee de entrada para a Liga Sagres e depois se contabilizem outros parâmetros, como os pontos conquistados e o público que atrai aos estádios.
P - É verdade que pôs a hipótese de concorrer à presidência da Académica de Coimbra?
Falou-se nisso. Eu andava na Honra, quando houve uma quebra em Coimbra e eu fui desafiado a isso, talvez porque havia quem quisesse abrir uma guerra em Coimbra.
Que espera do julgamento de José Eduardo Simões?
Ouça. isto de todos andarem a gritar “cão danado” não é nada da minha linha. Absolutamente nada. Eu não sei o que me passou e é claro que me entristece, ainda para mais com uma pessoa que conheço… que o mal que lhe desejo caia em cima da minha cabeça. Mas também estou farto desta coisa de fazer julgamentos na praça pública. Penso é algo de degradante e desgastante para quem passa por isso. E não são só os políticos. Todos sabemos que, em terras grandes e pequenas, com gente importante e não só, basta ter um mau vizinho, basta uma carta anónima, basta às vezes um boato para vermos a nossa vida virada do avesso. E bastaria à nossa Justiça acabar com esta pouca-vergonha, de uma vez por todas, para sermos todos um pouco mais felizes.
01 maio 2010
Continuação da entrevista de Aprigio Santos
Publicada por
Carina Monteiro
01 maio 2010 | Publicada por Carina Monteiro à(s) 1.5.10
Etiquetas: Futebol Profissional
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1 comentários:
Grande entrevista,grande Presidente!Que continue por imensos anos na Naval e que consiga fazer tudo o tem em mente,seria óptimo para o clube...Exelente também o vosso trabalho,Navalista.FORÇA NAVAL!
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